Não há dúvida de que muita coisa
mudou no Brasil, principalmente considerando-se os últimos cinquenta anos. A
mulher se tornou visível, passou a ocupar novos espaços e posições na sociedade.
O mercado de trabalho foi pouco a pouco abrigando a presença feminina e os
arranjos familiares também se modificaram.
Mesmo com todas essas mudanças,
ainda assim o cenário atual encontra-se caracterizado por inúmeras controvérsias
e questões a serem respondidas e discutidas. Existe igualdade de gênero no
Brasil? Qual é, de fato, o papel da mulher na sociedade brasileira?
A depender da imagem que se
veicula da mulher na mídia nacional, a tão sonhada igualdade de gênero está bem
longe de ser conquistada. Os portais de notícias como "Uol", "Globo"
e "Terra", por exemplo, não se cansam de explorar o corpo feminino.
Diariamente veiculam-se matérias exaltando-se a boa forma de alguma beldade. "Fulana malha de shortinho e posta foto";
"Ciclana posta foto de biquíni e
ganha elogios na web". "Modelo
bomba com corpão e embaixadinha". Isso sem contar um sem número de fotografias
apelativas de mulheres seminuas, estrategicamente clicadas de costas, porque,
claro, em se tratando de preferência, bunda ainda é unanimidade.
A obsessão pelo corpo feminino perfeito
não é um privilégio masculino. Milhares de mulheres, seja pela busca da fama, por
exibicionismo, necessidade de autoafirmação, carência - entre outras tantas razões,
não se cansam de bombardear as redes sociais com autorretratos provocantes, sensuais
e preferencialmente em trajes sumários.
Tamanha exposição do corpo feminino
afeta cada vez mais e, de modo negativo, as próprias mulheres. A pressão por
ser bela, jovem e atraente é constante e sem precedentes na história da sociedade
brasileira. Nunca se ouviu tanto dizer sobre dietas, tratamentos estéticos e
cirúrgicos e atividade física. Nas publicações direcionadas às mulheres há,
invariavelmente, a dica do momento para tratar o cabelo, a pele e também malhar
o corpo.
A frase, dita por uma jovem de
apenas 26 anos, em uma entrevista publicada em uma revista de Belo Horizonte, reflete bem os
danos causados pela persistência do status feminino como objeto na sociedade
atual: "Já estou com 26 anos e não
quero ficar por baixo. Sempre falo: homem envelhece, mulher apodrece..."
Envelhecer é a ordem natural das coisas e isso
funciona igualmente para homens e mulheres, sem diferença de gênero. Mas se a
sociedade quer que a mulher realmente seja um ser bem resolvido, independente e
dono de seu próprio nariz, não pode mais fechar os olhos para todas essas
questões. Não se pode mais aceitar e compactuar com parâmetros tão desajustados,
mesmo que isso vá de encontro à enorme lucratividade da indústria cosmética e da
própria mídia.